Há quatro anos na área e com mais de 23 milhões de assinantes, o Game Pass ocupa hoje um lugar de destaque no cenário dos videogames. Uma extensão natural para quem tem um Xbox, também entrou no campo do PC e, em menor medida, do celular para diminuir consideravelmente as barreiras do meio.
Apenas o Game Pass me dá uma sensação contrastante. ImpossÃvel negar suas virtudes. Barato, permite que pessoas que até agora se afastaram dos videogames (re)descubram e aproveitem as últimas inovações. Mas também esboça um futuro perturbador, no qual, como o Netflix ou qualquer outra plataforma de vÃdeo sob demanda, estarÃamos literalmente afogados na massa de jogos disponÃveis. E onde, em última análise, farÃamos dos videogames um meio descartável.
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No momento em que estas linhas são escritas, o Game Pass tem exatamente 382 jogos disponÃveis no console e 275 acessÃveis no PC. E tudo isso sem contar os tÃtulos também jogáveis ​​na nuvem (celular, tablet, navegador) com assinatura do Game Pass Ultimate (€ 12,99 por mês). Resumindo: muito. Especialmente porque a Microsoft adiciona uma dúzia de novos tÃtulos mensalmente.
O Game Pass já engrossou consideravelmente seu catálogo desde seu lançamento em 2017. Engraçado, aliás, notar que o site oficial do serviço sempre promete acesso a "mais de 100 jogos excepcionais", como se não tivesse ele mesmo antecipado a escala demoraria hoje.
Então, onde exatamente está o limite? Entrevistado por nós em abril passado, Jason Beaumont, gerente do programa Xbox Game Pass, sentiu justamente que não deveria haver nenhum. Ou, pelo menos, que era preciso que a empresa se mantivesse razoável apostando alto na curadoria. “A ideia não é dizer '180 jogos é bom, mas 200 jogos é demais'. Queremos que os jogadores possam descobrir jogos. Queremos, portanto, que o Game Pass seja um catálogo com curadoria real. É nossa responsabilidade criar um encontro entre desenvolvedores e jogadores. Não é um bufê à vontade, conclui ele, é uma seleção bem pensada. »
No entanto, e mesmo com "apenas 382 jogos", admito já ter sido atingido pela "sÃndrome da Netflix" quando ando pelas bancas do Game Pass. Tantos jogos me fazem desejar. Novos lançamentos, tÃtulos que senti falta quando saÃram, jogos conhecidos de gêneros que não estou acostumado a explorar. Então adiciono sem muita convicção esses jogos à minha lista de downloads. Ciente de que, como acontece com a maioria dos tÃtulos da minha biblioteca de brinquedos Steam, Epic, Gog e assim por diante, provavelmente nunca teria tempo para finalizá-los – ou mesmo lançá-los.
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mal do século
Você pode me responder que é um problema de um homem rico. Coitado, ele tem muitos jogos à sua disposição. Você não estaria errado; a situação é invejável em mais de uma maneira. Mas faz parte de uma época em que o "FOMO", sigla para o medo de perder (o "medo de perder algo", em bom espanhol) é considerado por muitos como o mal do século.
Sabe aquela vontade irresistÃvel de abrir o Twitter nas férias e você prometeu a si mesmo desconectar? Ou a necessidade irreprimÃvel de comprar este jogo em saldos porque está bem avaliado, e a este preço seria uma pena não o aproveitar. Exemplos não faltam. E o Game Pass, de certa forma, mantém essa máquina fazendo uma espada dupla de Dâmocles pairar sobre nossas cabeças. Por um lado, a maioria dos jogos disponÃveis no catálogo estão disponÃveis apenas temporariamente. Então você tem que encontrar tempo para terminá-los antes que eles desapareçam. Por outro lado, sabemos de antemão que em breve muitos novos tÃtulos entrarão na plataforma. Então, vamos nos apressar para terminar os que estão em andamento para que possamos aproveitá-los! Você vê o quadro-negro.
Será que, como o usuário médio do Netflix, acabaremos gastando cerca de 17,8 minutos por dia rolando passivamente até encontrar um jogo de que realmente gostemos? Tenho que confessar que isso já acontece comigo. Já me peguei ligando o computador ou o console para simplesmente rolar os jogos do Game Pass antes de desligar a máquina, cansado de guerra.
Um acordo de ouro para desenvolvedores
Podemos achar, em nossa escala de jogador, que o Game Pass já é muito grande. Mas para desenvolvedores e estúdios independentes, provavelmente é o tamanho perfeito. Pense bem: o que é melhor quando você se chama Studio Koba (Narita Boy) ou Eggnut (Backbone) e está prestes a lançar seu primeiro jogo? Fazê-lo em relativo anonimato no Steam, perdido no meio de uma verdadeira selva de outros tÃtulos, ou ser destaque numa plataforma que não tem mais de 400 jogos e que te vai colocar em destaque perante mais de 23 milhões de jogadores?
E tudo isso sem falar no generoso cheque assinado pela Microsoft para garantir que um jogo seja incluÃdo assim que for lançado em seu serviço de assinatura. Segundo alguns desenvolvedores, o Game Pass representa nada menos que o melhor negócio imaginável para a publicação do seu jogo, é difÃcil não ficar feliz com isso.
Rumo a um videogame formatado?
Mas sou um grande pessimista. E se, pela sua natureza, o Game Pass acabar por condicionar a forma como os jogos de amanhã são concebidos? E se a integração ao Game Pass se tornasse uma bússola para os desenvolvedores?
No momento, estamos muito, muito longe disso. A linha editorial do serviço da Microsoft é, para dizer o mÃnimo, variada. Existem jogos de serviço AAA à la Outriders, J-RPGs malucos como Yakuza e jogos independentes Ãntimos como Night in the Woods ou, mais recentemente, The Wild at Heart.
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Mas a indústria está em constante mudança. A Microsoft ainda pode ser imune a isso, mas seus concorrentes não hesitam em experimentar diferentes modelos de remuneração para desenvolvedores.
Veja o Stadia, o serviço de jogos em nuvem do Google. Embora em uma fase (muito) ruim após o fechamento de seus estúdios internos, a empresa acaba de anunciar um programa que visa remunerar os desenvolvedores de acordo com o tempo gasto pelos jogadores em seus tÃtulos. Claramente, o Google incentiva os estúdios a desenvolver jogos projetados para maximizar a retenção de usuários, acenando com a promessa de melhor remuneração sob seus narizes. O cassino de videogame, você sonhou com isso?
The Game Pass, o novo laboratório da Microsoft
As plataformas de jogos por assinatura não são apenas bufês à vontade, dos quais escolheremos novos jogos para descobrir. Servem, para seus editores, como verdadeiros laboratórios que, em certos casos, permitem direcionar seus investimentos futuros.
Há alguns dias, Phil Spencer, CEO do Xbox, falava justamente sobre esse ponto no Kinda Funny Gamecast. Aprendemos – sem surpresa – que os dados de atendimento para jogos no Game Pass são examinados de perto pela empresa. A ponto de incentivar a exumação de alvarás que se pensava terem desaparecido!
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Foi justamente o que aconteceu com Fable, o próximo jogo da licença, desta vez desenvolvido pela Playground Games. É observando a popularidade intacta das primeiras obras no Game Pass que a Microsoft teria dado luz verde a uma reinicialização, cujo lançamento infelizmente não está para chegar.
Sentimentos contrastantes, portanto, em relação a um serviço cuja atratividade está crescendo, mas cujas disrupções instilam no setor, exigem que permaneçamos cautelosos. Enquanto isso, ainda tenho uns bons trinta jogos para terminar antes da chegada do próximo lote de Game Pass. Que época!
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